Coleção 2 . Dezembro 2020

Pedro Bonacina & Fernanda Corsini

Ensaios de Dezembro, 2020
Eu queria ser W. Eggleston . Pedro Bonacina
Desencontro . Fernanda Corsini

Pedro Bonacina

Eu queria ser W. Eggleston . Pedro Bonacina

Eu tenho certa mania de organização, antes de iniciar qualquer coisa - de lavar a louça ou montar um set - eu preciso “por a casa em ordem”. Mesmo que isso aconteça só na minha cabeça. É meu ponto de partida. Uma necessidade. As coisas precisam estar de alguma forma "certas” e “nos seus lugares". (Pedro Bonacina, dez. de 2020)

Ele queria ser jogador de futebol mas a bola não o escolheu. Resolveu então olhar: virou fotógrafo. Tinha mania de organização e adorava caminhar pelos bairros onde morou, pelas cidades que conheceu. Ainda adolescente, pôs-se a organizar no visor de sua Minolta a bagunça ao redor. Calçadas, almofadas, entulhos, outdoors, a xepa da feira. Tapete, portas coloridas, carrinho de supermercado. Com um olhar quase metódico, Pedro opera a câmera segundo uma lógica própria e surpreendentemente harmônica. Sem intervir na cena reorganiza a matéria enquadrada no 2x3 da fotografia. O grande interesse do trabalho de Pedro é o “quase” do metódico do olhar. Pois não se trata de uma organização óbvia. Se observarmos suas fotos individualmente ou sem a devida atenção, elas podem parecer observações cotidianas, incidentais. Mas ao nos debruçarmos sobre elas, o “quase” chama a nossa atenção. Não vemos três laranjas ou entulhos de uma construção, vemos formas, cores, texturas, massas, volumes todos eles rigorosamente esquadrinhados na composição. Em algumas imagens parece até que o fotógrafo pegou uma pá e uma vassoura e ordenou em montinhos quase simétricos a brita espalhada na calçada. Jocosamente inspirado pelo pioneiro da fotografia colorida William Eggleston, o ensaio “Eu queria ser W. Eggleston” , de Pedro Bonacina, combina a tentativa vã e incessante de organização com o cultivo de um impulso juvenil, produzindo despretensiosamente imagens potentes e bastante pessoais.

Pedro Bonacina estudou fotografia na London College of Communication com foco em projetos autorais. Essa rota foi alterada por sua entrada no universo da moda e publicidade como assistente de Bob Wolfenson, o que definiu sua especialidade e atuação nessas áreas. Já fotografou para marcas como Natura, MTV, Suzuki, entre outras. No entanto, a mudança de rota não o impediu de manter sua câmera analógica sempre por perto. Ainda resiste um "wannabe" Eggleston por ali.

"Eu tenho certa mania de organização, antes de iniciar qualquer coisa eu preciso “por a casa em ordem”. Mesmo que isso aconteça só na minha cabeça. É meu ponto de partida. Uma necessidade". Ele queria ser jogador de futebol mas virou fotógrafo. Tinha mania de organização e adorava caminhar pelos bairros onde morou, pelas cidades que conheceu. Ainda adolescente, pôs-se a organizar no visor de sua Minolta a bagunça ao redor. Calçadas, almofadas, entulhos, outdoors, a xepa da feira. Tapete, portas coloridas, carrinho de supermercado. Com um olhar quase metódico, Pedro opera a câmera segundo uma lógica própria e surpreendentemente harmônica. Sem intervir na cena reorganiza a matéria enquadrada no 2x3 da fotografia. O grande interesse do trabalho de Pedro é o “quase” do metódico do olhar. Pois não se trata de uma organização óbvia. Se observarmos suas fotos individualmente ou sem a devida atenção, elas podem parecer observações cotidianas incidentais. Mas ao nos debruçarmos sobre elas vemos formas, cores, texturas, massas, volumes todos eles rigorosamente esquadrinhados na composição. Jocosamente inspirado pelo pioneiro da fotografia colorida William Eggleston, o ensaio “Eu queria ser W. Eggleston” , de Pedro Bonacina em parceria com o Espaço Sem Nome, combina a tentativa vã e incessante de organização com o cultivo de um impulso juvenil, produzindo despretensiosamente imagens potentes e bastante pessoais.

Fernanda Corsini

Desencontro . Fernanda Corsini

Uma viajante, uma câmera, a pesquisa de uma linguagem. Ela viaja sozinha, seu olhar é mediado por uma câmera fotográfica. As cores, o tema, os enquadramentos, cada escolha ecoa a premissa. No ensaio "Desencontro" somos convidados a observar cenas distantes. O distanciamento, entretanto, não vem da geografia, ainda que as imagens tenham sido capturadas além-mar. O distanciamento é construído pelas escolhas da própria fotógrafa, que se aparta e nos aparta da cena. Ela ocupa e nos convida a ocupar a posição de observadores. Mas não se trata de um flagra. Em suas imagens não somos voyeurs. Pessoas, cachorros, monumentos parecem não perceber ou não se importar com a presença da fotógrafa. Pessoas, cachorros, monumentos todos distantes, quase sempre de costas. Apartados, mesmo entre si. Não há interlocução entre os sujeitos fotografados ou entre a fotógrafa e a cena. Mesmo quando ângulo e enquadramento indicam uma proximidade física, o desencontro do olhar, a vastidão do azul, os respiros da foto apontam para um estado contemplativo. Uma pausa. No ensaio desencontro, temos uma jovem fotógrafa desenvolvendo um olhar e uma investigação visual sobre aquilo que é próprio da fotografia: a capacidade de capturar fragmentos da realidade, a capacidade de compartilhar um olhar.

Fernanda Corsini: “retrato para conhecer o outro e faço arte para conhecer tudo o que eu posso ser”. Fotógrafa, retratista e artista visual. Estudou no Instituto de arte contemporânea da Technische Universität Graz (Áustria). Trabalha com diferentes técnicas e materiais como a série de auto-retratos “Ser é estar”.

Em parceria com o Espaço Sem Nome, Fernanda Corsini desenvolveu o ensaio Desencontro. Em "Desencontro" somos convidados a observar cenas distantes. O distanciamento, entretanto, não vem da geografia, mas das escolhas da fotógrafa, que se aparta e nos aparta da cena. Ela ocupa e nos convida a ocupar a posição de observadores. Não se trata de um flagra, não somos voyeurs. Pessoas, cachorros, monumentos parecem não perceber ou não se importar com a presença da fotógrafa. Todos distantes, de costas. Apartados, mesmo entre si. Não há interlocução entre os sujeitos fotografados ou entre a fotógrafa e a cena. Mesmo quando ângulo e enquadramento indicam uma proximidade física, o desencontro do olhar, a vastidão do azul, os respiros da foto apontam para um estado contemplativo. Uma pausa. Um desencontro com o ritmo frenético das cidades. Entre as fotos do ensaio desencontro selecionadas para a presente exposição, está a foto Gêmeas, capa do cartaz de divulgação do evento.