Coleção 4 . Maio 2021
Paola Ornaghi & Pedro Kok
Ensaios de Maio, 2021
Interior, exterior: Pacaembu . Paola Ornaghi
Coordenadas . Pedro Kok
Paola Ornaghi
Interior, exterior: Pacaembu . Paola Ornaghi
O ensaio interior, exterior: pacaembu, nos convida à observação minuciosa do complexo esportivo e sua rede de relações sociais e arquitetônicas. No bojo das polêmicas em torno da concessão do complexo Pacaembu para a iniciativa privada e da possível demolição do tobogã, as fotografias de Paola Ornaghi, apontam para além da superfície. Quais são os interesses mercadológicos em jogo? Os usos esportivos e de lazer do aparelho público? Quem são os frequentadores do complexo? Qual será o futuro dessa importante obra arquitetônica? Na série de fotografias analógicas “interior, exterior: pacaembu”, Paola lança mão da dupla exposição ao velho estilo. Conforme explicado pela fotógrafa, a primeira queima do filme foi realizada no interior do mesmo, na região da piscina, estádio e ginásio e, a segunda queima foi realizada no exterior do complexo esportivo, ao redor do extenso muro do Pacaembu. Entre uma queima e outra, Paola rebobinou o filme e o recolocou na câmera, de modo que, sobressai-se em suas fotografias uma forte dose de ocasionalidade. E é justamente essa sobreposição entre o exterior eo interior o ponto alto do ensaio. Seja quando associado ao contexto em que este foi produzido, seja quando associado à questão da forma e da técnica fotográfica adotada. É nesse “entre” que encontramos o embate da superfície de uma manchete aos interesses econômicos e as relações sociais que mobilizam decisões e ações políticas, tais como a concessão do equipamento público. É nele “entre” que encontramos o desvelamento do fazer fotográfico e o convite à prática da reflexão visual. Lembro-me de ouvir Paola comentando sobre as constantes observações e novas descobertas feitas a cada passada de olho no próprio ensaio. A série foi realizada entre abril e maio de dois mil e dezenove e de lá pra cá, já foi publicada parcialmente no jornal Folha de São Paulo (acompanhadas pela análise Longe da Ociosidade, Pacaembu revela vitalidade despercebida de Francesco Perrotta-Bosh) e premiada na categoria Fotografia de Arquitetura e Cidade, pelo IAB. Neste ensaio de 2021, temos o prazer de apresentar uma versão expandida da intrigante série de Paola, estendendo, então, o convite, realizado pelas fotografias da série, à ver outra vez, à mergulhar na imagem e escrutiná-la. Nesse momento de crises diversas, nada como uma instigação para ver de outro jeito, para ver de novo.
Paola Ornaghi é arquiteta e urbanista formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), mescla sua atuação como arquiteta com o interesse pelo ensino e com experimentos na fotografia analógica. O ensaio fotográfico foi publicado parcialmente no jornal Folha de São Paulo e premiado na categoria Fotografia de Arquitetura e Cidade pelo IAB-SP em 2019.
Realizada entre abril e maio de dois mil e dezenove as fotografias de Paola Ornaghi que compõem o ensaio "Interior, Exterior: Pacaembu" já foram parcialmente publicadas no jornal Folha de São Paulo e premiada na categoria Fotografia de Arquitetura e Cidade, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. O ensaio interior, exterior: pacaembu, nos convida à observação minuciosa do complexo esportivo e sua rede de relações sociais e arquitetônicas. No bojo das polêmicas em torno da concessão do complexo Pacaembu para a iniciativa privada e da demolição do tobogã, as fotografias de Paola Ornaghi, apontam para além da superfície. Na série de fotografias analógicas “interior, exterior: pacaembu”, Paola lança mão da sobreposição fotográfica ao velho estilo. Conforme explicado pela fotógrafa, a primeira queima do filme foi realizada no interior do mesmo, na região da piscina, estádio e ginásio e, a segunda queima foi realizada no exterior do complexo esportivo, ao redor do extenso muro do Pacaembu. Entre uma queima e outra, Paola rebobinou o filme e o recolocou na câmera, de modo que, sobressai-se em suas fotografias uma forte dose de ocasionalidade. A sobreposição entre o exterior aponta por meio da forma par o conteúdo, isso é, o embate da superfície de uma manchete com o que está por trás das grandes decisões políticas. Aponta para o questionamento dos interesses mercadológicos e imobiliários. A fotografia como um instrumento de reflexão. No ensaio expandido, exposto em parceria com o Espaço Sem Nome, Paola, nos convida a mergulhar na imagem e escrutiná-la, a ir além da superfície.
Pedro Kok
Coordenadas . Pedro Kok
Para onde a câmera aponta.
Há quinze anos, a fotografia do projeto de arquitetura constitui o meu fazer profissional. Esses quinze anos e o rigor deste padrão de representação constituíram meu repertório e minha produção iconográfica. No ensaio COORDENADAS, isso não é diferente.
Este ensaio foi realizado ao longo de um ano, entre os meses de maio de 2020 e 2021. As fotos clicadas, todas, a partir de um mesmo local. A posição da câmera dista não mais que 200 metros entre as imagens. Das matas primárias e secundárias da serra da Mantiqueira forma-se um conjunto de imagens. O posicionamento da luz natural, a rigidez de enquadramentos, a ideia da formação de um espaço arquitetônico em meio à paisagem. Uma quase infinita combinação de elementos, objetos, reflexos, amarelos, verdes e cinzas. O desenho do projeto arquitetônico, que tanto informa minha produção, cede espaço às matas de galeria e ao tapete de araucárias.
No outro conjunto, as imagens do céu. Uma espécie de fotografia híbrida. Há nelas elementos da astrofotografia canônica, fundamentalmente técnica e de aferição, que aqui passam a ser trabalhadas e retrabalhadas como fotografias livres e investigativas. Cada uma destas fotografias é composta de centenas a milhares de registros individuais. Para registrar o que está além da capacidade de resolução do olho, somam-se intensidades de luz a partir da sobreposição de incontáveis cliques. Nesse tipo de fotografia, o ato de fotografar deixa de ser "o registro de um instante mutável", tornando-se a somatória de muitos instantes daquilo que é imutável. Ou, quase imutável se comparado a duração de nossa existência humana. Se um novo ponto de luz surgir, onde antes não havia nada, tem-se uma novidade no céu. Ali, para onde a câmera apontou, a descoberta.
Pedro Kok é arquiteto urbanista formado pela FAU-USP (2009), mestre em Fine Arts pela Hogeschool voor de Kunsten Utrecht (MaHKU) (2011). Fotógrafo e videógrafo de arquitetura, estruturas urbanas e cidades, tem contribuído com fotografias e filmes para publicações, exposições e arquivos nacionais e internacionais.
"O que são essas fotos do Espaço Sem Nome? Elas ocorreram no período de um ano, que coincide, não por acaso, com a pandemia. Quando tudo se fecha, o fotógrafo, eu, não podia mais circular, não podia mais fotografar projetos de arquitetura. Toda a minha produção fotográfica, da noite para o dia, parou. Foi um baque. Emocionalmente, profissionalmente. Na ocasião, tive a oportunidade de me retirar de São Paulo e ir para a Serra da Mantiqueira. Eu saí assustado com o que estava acontecendo, sem a possibilidade de atuação profissional entrei em uma espécie de labirinto emocional. Não sabia mais para onde olhar. […] Essa sequencia de fotos é o resultado disso, desse último ano no qual eu suspendi um pouco da minha atuação profissional e perguntei-me: Para onde eu estou olhando? Porque eu estou olhando? As fotos da mata e do céu são fotos que trazem uma certa angustia. São escuras. A perspectiva, comum na fotografia de arquitetura, desaparece, mas permanecem alguns elementos estruturais. O rigor da câmera, o rigor do enquadramento da foto de arquitetura, permanece, porque é assim que eu penso a fotografia. Mas isso se dá em um objeto que é muito diferente e que se desenvolve por outras vias, que não são as da fotografia de projeto". Pedro Kok